sábado, 17 de janeiro de 2009


Psicologia da Vida Adulta


Texto construído conforme as teorias de Maturana, que fala sobre a necessidade da existência de um motivo, uma emoção que leve à uma ação. E em Erikson, conforme o texto de David Elkind, As Oito Idades do Homem, enfatiza que "a vida é uma mudança constante e que resolver problemas, em qualquer estágio determinado da vida, não constitui garantia contra a ocorrência de novos problemas, nem contra a descoberta de novas soluções para problemas anteriores, em estágios subsequentes.


Zé, um cidadão em construção.

Artur Cristovão Madruga Martins

José, um brasileiro que trabalhava na construção civil resolvera voltar a estudar. 20 anos e muita esperança pela frente. A namorada engravidara. Não havia como continuar a fugir da verdade. Deveria voltar a estudar, já que a mãe sempre lhe avisara que a única forma que tinha de transformar a vida era através do estudo. A não ser, claro, se ganhasse algum prêmio nas loterias oficiais. Impossível ficar preso a essa ilusão, o negócio mesmo era estudar.
Seu filho estava sendo gerado numa moça com quase 18 anos. José, era chamado de Zé por todos. Um apelido bem popular em seu país.
Zé jogava bola aos domingos no campinho que ficava no fim da rua, ao lado do arroio. Zé não gostava muito do que via, os sacos plásticos com lixo que a vizinhança jogava dentro da água. Os sacos se empilhavam à beira das encostas e, quando chovia, ele tinha que enfiar os pés na água contaminada que transbordava, para não desistir da sua pelada de fim de semana.
Nesses dias sentava com os amigos depois do jogo para tomar a sua cervejinha de fim de semana. Naquele boteco de madeira envelhecida, Zé discutia com a rapaziada a sapatada que o presidente americano havia levado até , o filho que vinha, a ameaça de desemprego, a inscrição que fizera para estudar no EJA da escola do bairro. Os amigos de bola tinham as mais diversas profissões. Eram motoboys, oficeboys, empacotadores, balconistas, flanelinhas Zé sabia que o seu trabalho era pesado e que ele estaria sempre arriscando o leite para a mamadeira do filho.
Certo dia Zé chegou em casa e viu que tinha um telegrama. A escola estava lhe chamando. Chegara a sua vez, a fila acabara. Foi à escola e fez a matrícula. Estudaria à noite.
Foi uma experiência muito importante para Zé. Na escola descobriu que aquilo que ele fazia lá fora, que ele discutia, que os problemas da comunidade, que a vida do bairro onde vivia, era importante para a escola. Zé participou de entrevista quando os professores apareceram em sua casa, de repente, para fazer várias perguntas sobre o que ele pensava a respeito de segurança no bairro, o acesso ao atendimento à saúde, o recolhimento de lixo, etc.. Os professores não se importaram com o seu barraco, disse aos amigos no outro domingo. “Pena que não avisaram que iriam aparecer que eu iria providenciar uma erva pra gente tomar um chimarrão, mas eles disseram que não poderiam avisar porque queriam ver como era mesmo a minha realidade, de verdade”.
Zé aprendeu a ver melhor as coisas, desde que com as coisas que os professores recolhiam de sua realidade começaram a ser discutidas na escola que ele estudava. Ele nunca imaginara que a escola estava tão diferente do que acontecia quando ele pequeno. Aprendeu que ouvindo os outros e falando sobre si estava trocando experiências. Ao trocar experiências e discutir sobre o resultado das pesquisas que os professores haviam feito, Zé foi ouvindo depoimentos que lhe fortalecia a vontade de agir na comunidade, de participar da associação de moradores do bairro, de ser mais solidário.
Em seguida ele participou do que os professores chamaram de intuição. Os professores haviam discutido os resultados dos debates que os alunos haviam feito sobre as pesquisas e elegeram um filme para poder ampliar as trocas e planejarem suas aulas. Zé ouvia e participava, curioso com o que seria o resultado das ações que procuravam integrá-lo.
Zé se construía diariamente estudando no EJA. Eram palestrantes que vinham esclarecer e formar a todos. Muito do que Zé imaginava como certeza permanente, descobrira ser provisória. De permanente mesmo ficavam as dúvidas. Seguidamente os professores convidavam Zé a expor suas idéias e conclusões sobre os assuntos que eram propostos em sala de aula, lá na frente. Para a turma toda. Não havia provas como antigamente e a avaliação era feita pela participação dele, pela sua contribuição às aulas e as trocas que ele fazia com os colegas. Zé descobriu, por exemplo, que muita coisa que ele achava certa, imutável, não tinha obrigatoriamente que ser daquele maneira. Que o que era senso comum, poderia, através da reflexão e pesquisa, do questionamento, fazer parte de um novo senso em sua vida, um senso que o qualificou como cidadão e que o fez tomar consciência das coisas à sua volta, da sua própria vida e de suas responsabilidades e direitos nessa nova sociedade que passara a vislumbrar. O seu novo senso tinha um importantíssimo nome, era transformador, construtor. Esse senso era o Senso Crítico.

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