sábado, 17 de novembro de 2007

Caminhada e Prática Docente

CAMINHADA E PRÁTICA DOCENTE
Trabalhando em uma comunidade de periferia, pode-se perceber exatamente o que Paulo Freire e os autores dos textos lidos, Giroux, Sartori e Krahe expuseram. Propostas e análises que refazem a nossa leitura leitura diária.
Essa educação “bancária” referida é a que estamos acostumados a praticar, mesmo que não quiséssemos. Até refletimos sobre ela, mas não mudamos, enquanto sujeitos que repetem o que nos é imposto. Não realizamos e não achamos provável a função de professor pesquisador no nosso dia-a-dia, porque já nos habituamos com a idéia externa de que o nosso trabalho é “conduzir”, somos meros técnicos tratando de cumprir o que os “mestres da pedagogia” nos impõem que seja feito. Ações fora da realidade, porque os mesmos não estão ali dentro da sala de aula de periferia dando duro para compreender, junto com os alunos, o problema social que os envolve e como soluciona-lo, quando queremos que eles façam a reflexão de seus cotidianos.
Frustramo-nos, enquanto professores, ao vermos que as reformas educacionais falam no professor como se ele fosse algo estático, imutável, passivo, sem opinião, que sempre é enganado e desvalorizado.
Sonhamos, quando saímos do magistério, com um mundo encantado onde tudo será fácil, e usamos de criatividade como se estivéssemos abrindo um baú cheio de riquezas desconhecidas. Com o tempo, vamos descobrindo que aquele baú fica vazio cedo demais. Que não fazemos mais do que cumprir tarefas e nos amarguramos – o que acontece com a maioria dos professores. Cavocamos otimismo e alegria, na tentativa de humanizarmos o nosso trabalho, mas temos bem claro que os conservadores venceram, pois engoliram as forças progressistas e as paralisaram. Quando imaginávamos que algo iria acontecer na educação como um todo – e isto inclue o professor como um agente transformador, o impossível vira realidade. O que o conservadorismo não conseguia fazer devido a resistência das forças opostas, foi feito e superado pela esquerda, transformando o ensino numa mera relação burocrática servil ao capital especulativo, à classe dominante.
É tempo de fazermos resistência, de acreditarmos sempre numa educação que leve à reflexão-ação. Que os professores possam se transformar em pesquisadores do seu fazer educacional.
Tive algumas experiências gratificantes neste sentido, trabalhando com o Seja –Serviço de Educação de Jovens e Adultos. Nós professores saíamos, fora do horário das aulas, a fazer pesquisa nas ruas onde moravam os nossos alunos, sem que eles soubessem. Preparávamos em nossas reuniões questionários e saíamos em duplas para os diversos bairros onde eles se localizassem. Entrevistávamos igrejas, candomblés, evangélicos, bares, armazéns, associações de moradores, íamos às casas de alguns alunos. Enquanto um entrevistava o outro observava e anotava. Observava o entorno do entrevistado para anotar as possíveis contradições entre as falas e o que o nosso olhar via. Respeitávamos até o vocabulário do interlocutor. Fazíamos reuniões gerais posteriormente, para selecionar as falas mais significativas e devolvíamos para a comunidade em reunião geral na escola, junto com os alunos. Ali eles confirmavam, retiravam, transformavam ou acrescentavam às falas apresentadas. Com elas elaborávamos o nosso planejamento, através de um “Complexo Temático” que se interligava entre conceitos e princípios. Depois, em outra reunião, estabelecíamos um plano intuitivo, para desencadearmos novas falas, em razão do que era “Senso Comum”, para que pudéssemos “Planejar” em cima do contraditório, despertando o “Senso Crítico”. Se não conseguíamos atingir esta meta satisfatoriamente, no mínimo abríamos o debate em torno dos temas de suas realidades, pertinentes. Agíamos para provocar reflexões. O aluno se construía como praticante reflexivo. Infelizmente isto só servia e serve para o aluno. O professor não existe ainda neste ambiente. Esta visão progressista não contempla o professor, que silencia, que é passivo, que se desvaloriza, que é oprimido.

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