domingo, 18 de novembro de 2007

Por que você ouve tanta porcaria?


Nelson Mota está certo quando diz "meu ouvido não é penico". É tanta mediocridade nas rádios, que, só agora me dei conta, ultimamente nem tenho ouvido rádio. Com a televisão acontece a mesma coisa, salvando algumas excessões. Fred 04, no texto "Por que você ouve tanta porcaria?" (Alisson Avila, in Revista Aplauso, Porto Alegre, ano 3, nº 22, 2000), chama de "pacto da burrice nacional", o fato de a mediocridade musical ter se generalizado nas emissoras. Para justificar esta evidência, ele argumenta que "todos os operadores culturais se vêem compelidos a atuar mediante determinados parâmetros éticos e estéticos, cada vez mais rígidos, estreitos, imediatos, rasteiros...para fazer com que o DINHEIRO corra cada vez mais rápido e sempre na mesma direção". Importantíssimo enfoque, se analisarmos o texto na sua íntegra e observarmos que é isto, que o capitalismo sufocou a estética cultural de um modo geral. Não só na música. Mas eu gostaria de acrescentar que esta coisa toda, que há tempos me colocava uma pulga atrás da orelha, não me parece estar isolada na importância do capital em si, do dinheiro. Me preocupava o fato de não entender direito o que acontecia com o meu "gosto musical", que não conseguia se "adaptar" ao que eu ouvia nas estações de rádio, a ponto de não mais conseguir ouvir rádio. Seria este um sinal de velhice? Meus ouvidos teriam enferrujado e não conseguiam ouvir com prazer o novo? Por que tanta riqueza musical da MPB havia desaparecido? Desconfiava disto que o texto expõem, mas cheguei a pensar que era um exagero e chatisse ficar achando isto ou aquilo, e que eu é que deveria mudar, me atualizar. Mas, ao contrário, fico muito satisfeito de ter lido o trabalho publicado pela revista APLAUSO, porque descubro que não era imaginação, que eram fatos reais que estavam escondidos: a repetição, o jabá, o circo, a falta de escrúpulos, o sistema das rádios, o mercado, os gerenciadores da música. Os depoimentos de Katia Suman, Nelson Mota, Edu K, dj Claudinho Pereira, Raul Albornoz, Lobão, Eduardo Santos, Flávio Bernardes e Tutinha, entre outros, são definidores. Um "levantar de véus", como diria Darci Ribeiro em seu ensaio O Óbvio, para descobrir outros véus a serem descortinados. A velha "tetra". Mas, voltando ao que eu gostaria realmente de acrescentar, e que havia concluído há alguns anos, se refere a nossa Ditadura Militar. Vivi esta época, e lembro perfeitamente das riquíssimas e provocadoras letras de músicas, que faziam crítica ao sistema, tentando driblar a censura governamental oficial que existia.Até as peças teatrais deveriam ter o aval da censura para poderem ir aos palcos. Só que os governos militares foram muito "inteligentes", voltando a Darci Ribeiro, e conseguiram sufocar a educação, a filosofia, a tudo que fosse possibilidade de pensamento reflexivo. Pensar havia se tornado um crime. Lavaram as escolas e os cérebros, retirarando a "sujeira do refletir", com um programa e planejamento infalíveis. Suprimiram todas as "liberdades", engendraram pré-conceitos. Simplificaram a extraordinária complexidade da vida. E tiveram sucesso. Eis o nosso panorama musical medíocre de um povo mediocrizado, alienado, que tenta se reconstruir. Luta contra o capitalismo dito "selvagem" e acha que cultura é algo estranho, que está lá fora. Os discursos da "Esquina Maldita", no encontro da Sarmento Leite com Osvaldo Aranha, em Porto Alegre ( um dos poucos lugares à época da ditadura que era permitido a estudantes escritores e intelectuais se reunirem- e onde fiquei amigo de Caio Fernando de Abreu-, mesmo que suspeitos de serem "subversivos"), não foram suficientes para prever que o caminho seria outro. Que, definitivamente, havíamos perdido as nossas batalhas ideológicas.Para finalizar, acho que a educação deverá fazer a "retroação", ou seja, voltar-se para a música como parte da discussão do senso comum e construção do pensamento crítico, cidadão.

Um comentário:

Beatriz disse...

Não estou acreditando!!! Link emais link!! Já com a idéia de hipertexto? Pelo que vejo, a tecnologia já está ampliando as tuas condições de comunicação, que é o que prezas de forma relevante!! Já pensastes que maravilha acontecerá qdo puxares um marcador e ele trazer tudo que refletistes e fizeste, deixados omo registros? Já antevejo um portifólio fantástico!!
Um abração
Bea